A combinação entre a expectativa de recuperação econômica global – sobretudo da China – e o aquecimento da indústria brasileira deverá beneficiar o setor siderúrgico nacional em 2022. Embora a demanda por aço não deva registrar grandes elevações no decorrer do exercício, a acomodação do preço do minério de ferro no mercado internacional tende a oferecer boa margem operacional para o setor.
Especialistas avaliam que, enquanto as vendas de aços longos seguirão elevadas em função do aquecimento de setores como a construção civil, os planos ainda sofrerão o impacto da falta de chips e semicondutores, que afeta atividades como as indústrias automotiva e de eletrodomésticos.
Diante do cenário, o Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda) trabalha com a perspectiva de elevar as vendas em 3% neste exercício, frente a uma queda entre 0,5% e 1% em 2021. Já o Instituto Aço Brasil aposta em crescimento de 2,2% na produção nacional e de 2,5% nas vendas internas.
“Apesar das baixas previsões de PIB (Produto Interno Bruto), ainda apostamos em um crescimento da demanda, principalmente porque alguns setores, apesar da crise, seguem muito bem e puxando o consumo. Este é o caso das máquinas agrícolas, carrocerias e caminhões, implementos rodoviários. Além dos equipamentos de energia eólica e solar, a partir dos investimentos e concessões”, explica o presidente do Inda, Carlos Loureiro.
Para ele, as importações também devem diminuir tanto pela competitividade nacional, que está maior, quanto pela produção das usinas brasileiras – que está num ritmo adequado à demanda nacional. Em relação aos preços, Loureiro fala em acomodação. “Hoje os preços estão de 10% a 15% do pico observado em julho do ano passado. Embora algumas pessoas falem em um eventual aumento, eu acho difícil no curto prazo, pois o preço lá fora já estabilizou”, afirma.
O analista de investimentos da Mirae Asset Wealth, Pedro Galdi, reforça que os preços das siderúrgicas já foram recompostos, o que deve oferecer boa margem operacional para as siderúrgicas. Por isso também, o especialista não vislumbra grandes aumentos de preços como observado nos dois últimos anos.
“As margens operacionais tendem a se posicionar em bom patamar e a lucratividade das empresas deve ser interessante. A inflação também deve perder a força e a redução da oferta de aço da China pode ajudar nas exportações. Ou seja, a tendência é que este ano seja melhor que o ano passado“, avalia.
Sobre o gigante asiático, Galdi diz que o país pode voltar a produzir aço em volumes importantes, caso minimize a estratégia de redução de gás carbônico, uma vez que um dos focos para o exercício diz respeito à recuperação econômica. Porém, o cenário somente ficará mais claro após as Olimpíadas de Inverno – que acontecem em fevereiro.
“No mercado interno minha aposta é que a indústria automotiva se recupere e volte a demandar aço. Ainda não teremos a normalização dos insumos, mas a oferta vai se ampliar e teremos maior produção de veículos novos”, prevê.
Já o head de Renda Variável da Monte Bravo Investimentos, Bruno Madruga, é mais cauteloso. Para ele, o setor siderúrgico chega a 2022 com boas perspectivas, porém, estas muito provavelmente não são tão boas quanto as expectativas criadas para 2021. “O cenário no ano passado era extremamente positivo. Agora existe a incerteza quanto à China e aos demais mercados globais. Quanto à demanda nacional, segue a recuperação gradual liderada principalmente pelo segmento de construção”, opina.
Sobre o ano que passou, Madruga lembra que foi muito forte para as principais siderúrgicas nacionais, a partir dos elevados preços praticados, que as permitiu apurar gerações de caixa recordes – cenário que não deverá se repetir em 2022.
Carvão metalúrgico alcança pico de mais de 2 meses
São Paulo – O carvão metalúrgico negociado na bolsa chinesa de Dalian atingiu um pico de mais de dois meses diante de expectativas de demanda da China e preocupações com a oferta.
Os futuros do produto subiram com os participantes do mercado se sentindo otimistas sobre as perspectivas de demanda por insumos siderúrgicos no maior produtor de aço.
O contrato de carvão metalúrgico mais negociado encerrou as negociações do dia com alta de 5,7%, a 2.337 iuanes (US$ 367,74) a tonelada, após tocar em 2.370,50 iuanes no início da sessão, seu valor mais alto desde 28 de outubro.
O coque, a forma processada de carvão de coque e que é usado como agente redutor da principal matéria-prima da siderurgia, o minério de ferro, aumentou 4,8%, para 3.047 iuanes por tonelada. No início do dia, atingiu 3.050 iuanes, o maior valor desde 27 de dezembro.
“O preço do carvão de coque está firme, dando suporte ao coque. No curto prazo, as siderúrgicas irão gradualmente retomar a produção, o que é bom para a demanda de coque”, disseram analistas da Sinosteel Futures em nota.
Especulações sobre o estreitamento da oferta de carvão metalúrgico também geraram interesse no material, já que a Indonésia proibiu as exportações de carvão devido a preocupações de que não poderia atender sua própria demanda por insumos para geração de energia.
Não estava claro, no entanto, se a proibição de exportação da Indonésia também teria um impacto no fornecimento de carvão metalúrgico para a China.
Acompanhando os ganhos em outros insumos siderúrgicos, o minério de ferro de Dalian apagou as perdas iniciais e subiu 2,2%, para 689 iuanes por tonelada.
Os analistas, no entanto, aconselharam os participantes do mercado a moderar suas expectativas de demanda por matérias-primas para a produção de aço, especialmente com os feriados do Festival da Primavera chinês que se aproximam e as Olimpíadas de Inverno de Pequim no mês que vem, quando as siderúrgicas restringirão as operações. (Reuters)